Artigo - O CALVÁRIO DO SINDICALISTA
31/08/2022

A resiliência de um sindicalista
é inquestionável. Eu admiro, porque jamais me sujeitaria à essa luta insana de
defender pessoas que, como eu, raramente vão ao front e teimam em criticá-lo; insistem em desmerecê-lo quando esse
não consegue atingir objetivos promissores para a categoria, apesar da
dedicação extrema.



Será que alguém que nunca
participou, efetivamente, das pautas classistas pode dimensionar o calvário
desse representante?



Quantos de nós se dispõem deixar,
sem remuneração e abaixo de julgamentos e discordâncias, casa, esposa e filhos
e ir em busca de melhorias para a classe?



Ser sindicalista é “tomar porrada”
todos os dias, então eu penso: seria ele masoquista ou apenas um abnegado ser,
comprometido com os colegas que representa?



Precisamos admitir que seus
acertos não são lá tão afirmados, já que muitos desses são esquecidos,
entretanto, os insucessos são eternizados nos anais da história como erros.



É certo que representar a classe
é escolha própria e consciente, mas será que ele precisa apanhar o tempo todo?
Será que a abjunção familiar já não lhe causa transtornos suficientes? Não
seria melhor se esse colega fosse considerado e recebesse o apoio do grupo
correspondente?



Então você pergunta: “um
sindicalista não pode ser cobrado?” Eu respondo: “pode e deve”. A divergência,
o contraditório ou a oposição de ideias sempre será salutar e devida, porém, os
questionamentos precisam ser expressadas com respeito e urbanidade; sem ofensas
pessoais ou contestações exacerbadas, sobretudo aquelas críticas indignas, e as
inverídicas também.



Aí você pode questionar de novo:
“quer dizer que todos os sindicalistas são 100% comprometidos com as
conveniências das classes que os constituíram?” A resposta é “não”. Os
interesses em assumir a representatividade de uma classe podem ser diversos. Os
mais nocivos vão de político ideológicos a aventureiros, e o de maior mérito
não é, necessariamente, um interesse, mas um ânimo - é a vontade de lutar pela
categoria, mesmo enfrentando escarpadas adversidades.



É sabido, no entanto, que sempre
haverá joio no meio de uma plantação de trigo, logo, é preciso saber separá-lo.
No sindicalismo não é diferente, a equivalência com os maus pode desestimular
um bom e fiel representante.



Em tempo: eu vi nascer um sindicato, o da PRF, participando,
inclusive, das primeiras reuniões visando a sua formação e, acreditem, já
naquela época haviam embates acalorados e sérias divergências, no entanto, a
participação dos policiais era maciça e efetiva, coisa que foi se perdendo com
o tempo.



Hoje, salvo pequenas exceções,
quem menos participa é quem mais censura e desmerece o trabalho desse que foi
eleito, pela sua classe, como preposto para suportar as demandas trabalhistas
inerentes.



Assim, insisto que devemos valorizar, prestigiar nossos
sindicalistas, sem deixar de cobrar atuação forte e incisiva nas nossas
reivindicações, mas precisamos fazer isso com reconhecimento e respeito àqueles
que se fazem merecedores, e esses formam a esmagadora maioria.



*P. R. GOMES é policial rodoviário federal
aposentado e autor de obras como: Vozes da Alma; Resiliência - A Obra e, A
Batalha de Macacos de Danso, entre outras. Produziu, ainda, as peças de teatro:
Um ‘Bão Gaitêro’ e Meu fim, Mariana! - Também foi colunista em periódicos e
compôs diversos artigos jornalísticos.